Vamos tentar entender. A criança brasileira, segundo o IBGE, passa cerca de cinco horas em frente à TV, contra apenas cerca de três horas na escola. Esse tempo de exposição não está sendo substituído, mas agregado a novas mídias como a internet. Diante desse quadro, um grupo de parlamentares participou de um seminário promovido pela Agência Nacional de Defesa da Infância - ANDI, para discutir Infância e Comunicação. Eu disse Comunicação, e não Educação. Com o detalhe do subtítulo do evento: "Marcos Legais e políticas públicas". Tema mais que interessante - assim como a missão da própria ANDI, organização civil que busca mobilizar jornalistas para novas perspectivas no olhar sobre a infância e a adolescência - se nas entrelinhas dessa discussão não pairasse o anacrônico "controle de mídia" que alguns grupos políticos vivem tentando enfiar goela abaixo da população brasileira, utilizando-se da eufemística "democratização dos meios de comunicação". Tudo, a partir de agora, para que esse "tento" logre êxito, será arrastado para o ringue dessa discussão. Reuniões, debates, palestras, seminários, workshops, fóruns e o que vier mais a calhar, serão inventados a pretexto de aprofundar e avaliar os mais inusitados temas e quadros alarmantes que representem "grande risco" para a nação, para a democracia e, sobretudo, para a família e seus pimpolhos. A temida ameaça, seja qual for o tema em debate desse escopo, está na mídia, que anda solta por aí, editando o que bem quer, sem qualquer marco que a regule. Exemplo dos debates que rolaram no seminário da ANDI, nesta terça-feira, 5: "Crianças cada vez mais vulneráveis ao
consumismo estimulado pela publicidade; à obesidade infantil decorrente
de longos períodos de inatividade física e de ingestão de guloseimas
incentivadas pela propaganda; de sexualização precoce advinda do acesso a
conteúdos impróprios para a idade". Culpada? Para alguns, a MÍDIA, essa tonta sem marco regulatório. Nesse caso em particular, de demonização da mídia, vai-se por acaso questionar um ensino público de péssima qualidade, sem atrativos para uma infância inquieta, escolas em precárias condições físicas, sem equipamentos e sem incentivos aos esportes e outras inteligências e habilidades múltiplas, métodos ultrapassados, professores pessimamente remunerados e a carência em todo o país de escolas públicas em tempo integral que ofereçam às crianças brasileiras um ambiente não apenas voltado para os aspectos básicos da cognição, mas para a sua diversidade de papéis e funções culturais, envolvendo a música, a literatura, a dança, o teatro e as artes de um modo geral?? Não. Para os que defendem a partir dos seus interesses políticos o arremedo de democratização da mídia, cujo nome correto é "censura", a ameaça vem muito mais de uma mídia sem conteúdo adequado do que da absoluta falta de priorização de políticas públicas educacionais que tirem os infantes da frente da TV e os coloque numa interessante sala de aula. Só que, apesar dos disfarces, para esses, a mídia sem papas na língua precisa ser controlada muito mais pelos impedimentos que pode causar ao seu projeto de poder caso comece a revelar "malfeitos" a torto e a direito, do que propriamente por estimular criancinhas inativas a se entupirem de guloseimas em frente às telas das TVs. Concordo com a senadora Lídice da Mata - PSB-BA, representante da Frente Parlamentar Mista dos Direitos
da Criança e do Adolescente e presente ao evento da ANDI, quando diz que comunicação interessa ao
desenvolvimento sadio das nossas crianças. Mas em se tratando da figura pública aplaudida que é - pela história, defesa das liberdades e decência política - interessante seria mais cautela antes de afirmar que "é preciso avançar para um
marco legal das comunicações", como declarou. Muita calma nessa hora em que se estar a pensar num "marco regulatório" para a imprensa, senadora. Que "marco" seria esse? Insisto: dificilmente se aplicará controle de mídia sem ferir os princípios democráticos de direito.
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