domingo, 17 de fevereiro de 2013

Blogueira cubana fica no Brasil. Somos uma república de bananas, cerveja e praia

Chega ao Brasil essa semana a famosa blogueira cubana  Yoani Sánchez. Especulações e polêmicas cercam a viagem de 80 dias que Yoani fará pelo mundo, assim, meio que milagrosamente, após conseguir um passaporte para sair da ilha, depois de 21 tentativas e impedimentos governamentais. Bem, após tantas décadas equivocando-se num regime fechado, ultrapassado e com quase nenhum respeito às liberdades individuais, Cuba resolveu flexibilizar e permitir que dissidentes viagem para fora do país. Me senti numa caverna ao dizer isso. Mas é isso mesmo. Para sair livremente do país, como acontece no resto do mundo, os cubanos precisavam de autorização do governo, necessitavam do chamado "cartão branco" . Começando a  enxergar com um olho mais democrático e sensato - seria isso mesmo? - Cuba iniciou uma série de reformas sob o governo de Raúl Castro e baixou lei eliminando vários procedimentos burocráticos e custos que impediam seus cidadãos de cruzarem fronteiras. Instalou o cartão verde de saída. Já não era sem tempo.Yoani Sánchez ganhou o furor do governo cubano pelas críticas contundentes ao regime em sua página na web Generación Y e por meio do Twitter @yoanisanchez. Seus posts ganharam a simpatia do mundo e a antipatia dos  fiéis "fidelistas" no mundo inteiro. É rótulo demais enquadrar Yoani em "opositora ao regime de Fidel". Inteligente, sagaz, observadora, Yoani decidiu escrever, mesmo que num espaço controlado pelo governo, como a internet, o cotidiano, o desagrado e o retrato da ilha. Pronto: tornou-se para os radicais um instrumento ao interesse de serviços secretos de países ocidentais. Foi perseguida, sequestrada, torturada. A menina resistiu à ira e aos rótulos, ganhou prêmios internacionais - não conseguiu receber nenhum -, respeito, fama, voz. Não é de graça, portanto, que Cuba libera a garota para visitar 12 países. Além do Brasil, por onde começa, a blogueira visita a República Tcheca, Espanha, México, Estados Unidos, Holanda, Alemanha, Suíça, Suécia, Itália, Peru e Argentina. Não sei porque, prevejo algo de plastificado, condescendente nessa súbita liberação. A Revista Veja já se adiantou nas especulações. Na edição desta semana a Veja publica que Yoani, na sua inocência, não suspeita que existe por trás do passaporte que ganhou uma ardilosa campanha para desmoralizá-la por onde for. E continua:  a blogueira não estará livre dos olhos e tentáculos do regime autoritário cubano. Para os sete dias em que permanecerá no Brasil, o governo cubano escalou um grupo de agentes para vigiá-la e constrangê-la. Entre os agentes, membros do governo brasileiro. Segundo a revista, existe um dossiê contra Yoani Sánchez com 235 páginas que já foi distribuído pela Embaixada de Cuba, em Brasília, a militantes do PT. O dossiê, conforme publica a Veja, contém uma compilação de artigos publicados sobre a blogueira na ilha comunista, fotos e sórdidas montagens com insinuações de que ela teria se rendido ao dinheiro porque bebe cerveja, come banana e vai à praia. Pelas minhas profundas reflexões, Yaoni  vai amar o Brasil, dá um zig nos agentes,  em Fidel Castro e ficar por aqui mesmo. Vai abdicar, inclusive, de pisar no solo do Tio Sam, que nem lhe interessa mais. Porque afinal, yes: nós temos cerveja, bananas e lindas praias.